A CAPELA DA SANTA CRUZ DOS ENFORCADOS

Subindo a ingrime Rua da Liberdade, em Bragança Paulista, existe uma simples e pequena construção sacra, quem vê pensa que esta abandonada há anos. De fato, ela esta tombada no patrimônio histórico da cidade, entretanto, o poder publico não dá o valor merecido a essa obra: "A Capela da Santa Cruz dos Enforcados".

Essa igrejinha mesmo estando numa situação lastimável que se apresenta, tem uma história importante relacionada nas ações escravagistas da cidade. Nos primórdios do século 19, os fazendeiros no Brasil adquiriam escravos vindos da África, para trabalhar na formação das lavouras de café e para executar outros trabalhos ligados à agricultura. 

Nosso município na época era grande produtor de café e por essa razão havia grande número de escravos distribuídos pelas fazendas da região. O tratamento dado aos cativos quase sempre era desumano e muitos deles fugiam, e quando capturados, eram condenados a morrer na forca.

Durante esse período conturbado, existia uma propriedade rural que pertenceu a Venâncio Bonaparte e a dona Cirineia, ali também existia uma frondosa árvore onde eram enforcados esses infelizes. Conta-se que, numa dessas execuções, o carrasco responsável, não conseguia cumprir a sua sinistra missão, porque cada vez que era puxada a corda presa ao pescoço do desafortunado, esta se rompia sob o pasmo dos assistentes. 

Após várias tentativas sem obter resultado, resolveu-se perdoar o condenado, dando-lhe liberdade. A partir daí, na certeza de que a morte do cativo havia sido evitada por vontade divina, não se realizaram mais os enforcamentos naquele local, onde pessoas piedosas mandaram construir a secular capelinha com a devoção da “Santa Cruz dos Enforcados” onde, conforme contavam os mais antigos, passou a ser lugar de romaria de devotos das almas do purgatório. Passou ainda a ser costume, todos os anos, na cidade, comemorar a “festa da Santa Cruz” no dia 3 de maio e isso se deu durante muitos anos, quando era cumprido um mesmo ritual. 

Após a tradicional novena, no dia 2 de maio à tarde, uma procissão com diversos andores, tendo a frente a imagem de São Benedito, trazida por componentes da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens de Cor, que vestiam uma opa branca com golas pretas, iniciava-se na Igreja Matriz, na Praça central da cidade e dirigia-se àquele santuário, sendo o cortejo recebido por fiéis devotos na entrada da capelinha enfeitada de flores. 

No dia 3 de maio, pela manhã, o vigário da Igreja Matriz celebrava missa solene naquele local, e na parte da tarde saía uma procissão, que fazia seu trajeto pelas imediações da capela e, após a chegada da mesma, iniciava-se a parte festiva, com animado leilão de prendas, congada, caiapós e brincadeiras em moda na época, entre a quais o pau de sebo e a corrida de sacos. Para terminar as festividades, havia a queima de fogos de artifício acompanhada da soltura de rojões, quando então a multidão deixava o local, satisfeita por ter participado de mais uma festa em louvor à Santa Cruz e de certa forma ter reverenciado os escravos enforcados naquele local. Hoje, essas manifestações deixaram de acontecer, e a pequena igreja sofre não só com o descaso, mas também com o tempo. 

Logo, ela sucumbirá levando consigo uma história cheia de nuances da sociedade bragantina. Adaptação e texto: Dave Mambera e José Carlos Chiaron

Fonte: BJD Via: Pagina Bruto Informativo da História





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